quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Bienal discute geografia e identidade literária

Hugo Viana

A 9ª edição da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, organizada pela Cia. de Eventos, começa amanhã, no Centro de Convenções, programando encontros literários, lançamentos, oficinas e a tradicional feira de livro - todos os eventos têm entrada gratuita. A primeira mesa será com o autor Xico Sá, às 14h, seguida por uma homenagem ao escritor pernambucano Gilvan Lemos, às 16h, e uma conversa com a autora infanto-juvenil Paula Pimenta. 

Encerrando o primeiro dia acontece o encontro "Do exílio e seu avesso: identidades da jovem ficção brasileira", com os autores gaúchos Paulo Scott e Carol Bensimon, e o crítico pernambucano Thiago Corrêa, às 19h. O debate abordará temas recorrentes na literatura contemporânea: o aumento no número de publicações, a influência da geografia - o centro no Sudeste -, o impacto de eventos literários (nacionais e estrangeiros) na produção atual. Depois, às 20h, Scott autografa exemplares de seu novo romance, "Ithaca Road".  

"A literatura brasileira contemporânea vive um ótimo momento", avalia Carol, que prepara o lançamento do romance "Todos nós adorávamos caubóis". "A geração anterior, nos anos 1990, tinha de lidar com um cenário menos profissionalizado. O sistema literário não estava montado como hoje. Atualmente, as editoras investem, há eventos literários, há até certa projeção no exterior, embalada pela Feira de Frankfurt. Em razão do número de autores, de idades e contextos diversos, não acredito em uma única 'identidade'. Podemos dizer, claro, que ela costuma ser urbana, branca e de classe média. E masculina. Ainda assim, isso não diz muita coisa", ressalta. 

Embora o centro econômico brasileiro, o Sudeste, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro, sejam influentes na produção literária, é possível notar o surgimento e amadurecimento de novas vozes, de diferentes regiões. "Há consequências sutis na localização geográfica, mas isso não impede que, com as possibilidades de divulgação e circulação existentes, um trabalho de qualidade seja notado", comenta Scott. "A geografia interfere, mas é importante separar a literatura propriamente dita do tal 'sistema literário' que, esse sim, tem São Paulo como centro", afirma Carol. 

No encontro da noite de amanhã, Paulo e Carol debatem com o público, forma de diálogo que aprimora o conhecimento sobre os autores. "Nos eventos literários, o autor é obrigado a constituir uma persona bem diferente das quais se vale para articular uma história e escrevê-la. O contato com o público produz um lugar que desestabiliza a rotina da criação, forjando um arejamento, uma chance de não se levar tão a sério", destaca Paulo. "A gente lida com um público diverso. Há pessoas que são familiares com nossa obra, perguntam, e outras que não fazem a menor ideia de quem somos, o que é igualmente bacana. A troca é sempre produtiva para os dois lados", ressalta Carol.  

Pré-Balada Literária
abre a Bienal do Livro

A Bienal começa apenas amanhã, mas hoje o evento organiza a Pré-Balada Literária, encontro que acontece em São Paulo, criado pelo escritor pernambucano Marcelino Freire. Para esta apresentação, Marcelino participa com Flávio Magalhães, Gero Camilo, Nelson Maca, Helder Santos, Vertim Moura, Allan Jones e Ícaro Tenório. A apresentação acontece no Teatro Arraial, às 19h, com entrada gratuita. 

A Balada Literária, criada em 2006, é composta por conversas, leituras poéticas e música ao vivo. "Escritor precisa sair das páginas, do fundo das gavetas, das academias, das associações, dos fóruns enfadonhos e aristocráticos dos debates on-line e ganhar a prática, tomar as ruas... Literatura é coisa muito chata. Se a gente não agita a coitadinha, ela fica dura, engessada, sem vida... Literatura é vida. E ela tem de carregar com ela essa festa, essa alegria", ressalta Marcelino. 

Neste ano, entre os dias 20 a 24 de novembro, em São Paulo, o encontro chega à oitava edição. "Enquanto outras festas são feitas com 'um milhão', a nossa é feita com 'humilhação'", diz Marcelino. "O homenageado deste ano é Laerte. Vai ser uma festa cheia de quadrinhos. E trataremos da diversidade, discutiremos gêneros literários e sexuais. Vêm este ano, entre outros, Angeli, Arnaldo Antunes, Pedro Lemebel (do Chile), Washington Cucurto (da Argentina). E ainda, do Recife: Jomard Muniz de Brito, Miró, Wilson Freire", detalha. 


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