terça-feira, 27 de agosto de 2013

Homens à beira de um ataque de nervos

Hugo Viana

Rob Fleming, o protagonista de "Alta fidelidade" (312 páginas, R$ 39), livro do britânico Nick Hornby, lançado originalmente em 1998 e reeditado pela Companhia das Letras, tem mania de fazer listas com top 5 sobre qualquer situação cotidiana, grande ou pequena, banal ou devastadora. As cinco melhores músicas para uma manhã de segunda-feira, os cinco piores fins de namoro, os cinco trabalhos dos sonhos. Apresentamos aqui um top 5 com motivos conhecer esta obra que consegue, através do humor, comentar a complexa rede de contradições do homem dos anos 1990. 

5) Protagonista 

Rob, dono de uma loja de discos, é um homem comum acossado por crises existenciais. Tem características de um boêmio romântico e tumultos de um neurótico sem rumo. Rob é mais ou menos inteligente, tem aparência mediana, teias de aranha na carteira, um único terno para eventos sociais, comprado há três anos e que agora parece apertado demais, e a incrível habilidade para distorcer acontecimentos da rotina. É incapaz de enxergar com nitidez sentimentos alheios, um egoísta de bom coração. Aos 35 anos, sem perspectivas de evolução financeira, com passado afetivo marcado por ex-namoradas que bateram pesado em seus sentimentos, Rob é uma bem humorada mistura de temores masculinos. 

4) Coadjuvantes 

Além de um protagonista com peculiar hábito de errar emocionalmente, com comportamentos recorrentes ao universo masculino, o livro se destaca também por seus coadjuvantes. São personagens que, mesmo ocupando poucas páginas, representam dilemas afetivos, situações que geram empatia por falar, com humor, sobre problemas complexos que atacam pessoas que, contra a probabilidade, procuram felicidade no amor. Em especial Barry e Dick, amigos de Rob que se interessam por bandas alternativas e obscuras. São esnobes e comicamente aficionados por delírios da cultura pop, parecem incapazes de discutir relações e entender as delicadas curvas sinuosas na personalidade do sexo oposto. 

3) Humor

O livro trata de conflitos existenciais, dúvidas sobre aspectos da vida que assumem tamanho assustador aos 30 e tantos anos, mas a maneira como Nick Hornby enxerga esses dramas é através do humor, ironizando recorrências nos costumes e comportamentos de casais. Rob tem uma teoria sobre o amor que parece resumir o espírito do livro: não é possível ser um adulto emocionalmente estável tendo escutado, na adolescência, clássicos da música pop, canções que aqueceram corações solitários ou machucados através de melodias acolhedoras. Para essas pessoas, a declaração de amor, a carta que revela sentimentos, vem na forma de uma fita K7 cuidadosamente composta por coleção pessoal de hits. 

2) Tempo

A certa altura, Rob reclama que seus problemas afetivos não podem ser debatidos de forma proveitosa com seus pais. É uma observação de certa forma válida para jovens de qualquer época que reclamam da dificuldade de compreensão entre pais e filhos, mas nos anos 1990, quando o livro foi escrito, era um sentimento grandioso demais - a revolução tecnológica, as distâncias geográficas encurtadas, o maior acesso a obras de arte pareciam apresentar novas dinâmicas para relacionamentos e ampliar fronteiras entre gerações. Observado quase 20 anos depois, este é um livro que documenta, com precisão nostálgica, comportamentos do passado, dados de uma geração anterior e levemente familiar.  

1) Narração

Todas essas características são embaladas pela narrativa de Hornby, escritor particularmente afinado no humor e nas observações sociais. É um livro que apresenta o ponto de vista masculino para situações de amor, convicções escritas com uma sensibilidade um tanto bruta, em que problemas afetivos iniciam uma instigante jornada literária. A narração em primeira pessoa consegue ressaltar, através de confidências em um fluxo irregular de pensamentos nem sempre admiráveis, que as situações descritas se referem a um certo conjunto de homens, uma espécie de auto-ajuda politicamente incorreta. 

Saiba mais

CINEMA "Alta Fidelidade" foi adaptado para o cinema. Com direção de Stephen Frears, o filme traz no elenco John Cusack(Rob), Jack Black (Barry) e Todd Louiso (Dick). 

LANÇAMENTOS A Companhia das Letras tem o projeto de relançar obras de Hornby. Além de "Alta Fidelidade", a editora publica também "Febre de Bola". 

LIVROS Hornby é lembrado por livros como "Um Grande Garoto" (adaptado para o cinema) e "Uma Longa Queda" (será lançado ano que vem pela Companhia). 

SERVIÇO

"Alta Fidelidade" 
(Companhia das Letras, 312 páginas, R$ 39)

"Febre de Bola"
(Companhia das Letras, 352 páginas, R$ 39)


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Comédia sobre uma mulher em fuga

Hugo Viana



Um dos grandes escritores norte-americanos do gênero comédia, James Thurber dizia que o humor praticado nos Estados Unidos tinha como característica transformar fatos notáveis em acontecimentos ordinários, criando piadas ao modificar a percepção sobre o cotidiano. É uma definição possível para o humor de Maria Semple, 49 anos, escritora e roteirista norte-americana cujo segundo livro foi lançado no Brasil, "Cadê Você Bernadette?".

Maria parece interessada em um humor cínico, uma comédia de costumes que trata situações importantes como banalidades da rotina. A história é sobre Bernadette, mulher de 50 anos com passado notável, um gênio da arquitetura que se transformou em um tipo de eremita. Trocou, com o marido e a filha, a agitação cultural de Los Angeles por uma espécie morosa de existência em Seattle, vivendo num bairro regido por tolices, onde conta bancária define caráter, mulheres empinam o nariz e possuem a cabeça oca.

Bernadette experimenta um enjoo ainda maior quando a família decide viajar para Antártida. A partir daí, um carnaval humorado de acontecimentos excêntricos transforma a narrativa em uma busca desesperada: onde está Bernadette? Despareceu. Assim como seu livro anterior, "This One is Mine" (ainda não traduzido), Maria investiga, com humor, os dramas da mulher contemporânea, as tragédias íntimas alteradas por conflitos da rotina.

Destaque para os personagens, diferentes tipos humanos de sensibilidades histéricas, pessoas que mantêm um exterior social polido e por baixo escondem sentimentos mesquinhos. Ao mesmo tempo, são tratados como essencialmente humanos em suas imperfeições cínicas. "Eu nunca começo a criar um personagem até que ache uma maneira cômica para eles", informa a autora, em entrevista por e-mail. "Quando eu criei os esboços, pude começar a escrever. E então os personagens cresceram e se tornaram mais humanos enquanto eu progredia", explica.

O livro possui uma estrutura narrativa peculiar: boa parte da história é contada através de documentos - conversas via e-mails, mensagens, recados gravados, posts em blogs -, uma exaustiva compilação de evidências que podem apontar o que aconteceu com Bernardette, os motivos de seu desaparecimento, o destino de sua fuga.

Não se trata de exercício de estilo virtuoso, a tentativa de inventar algo diferente e descartável, mas uma maneira de narrar que intensifique a imersão na história. Há um motivo para essa estrutura, revelado perto do fim, além de ser uma opção que ressalta, de maneira criativa, o humor de uma pequena comunidade, colocando situações cômicas e trágicas na voz e nos modos de quem experimentou.

Maria é reconhecida por roteiros escritos para séries de humor como "Louco por Você", seriado dos anos 1990 sobre o momento em que jovens de 30 e tantos anos se tornam adultos, adquirem responsabilidades familiares e independência financeira, enfrentam crises do amor, e "Arrested Development", sobre uma família rica que perde a fortuna e precisa adaptar hábitos a uma rotina sem requintes, uma crítica aos modos da primeira classe e ao mesmo tempo uma visão humorada sobre picuinhas familiares.

"Eu amo a liberdade da escrita de um romance", diz Maria. "Tudo e qualquer coisa pode acontecer. Ninguém está pedindo para seu livro ser escrito - é uma arte - então não há regras. Eu amo isso. Tenho muito orgulho do meu trabalho para a TV, mas estou satisfeita por ter achado a ficção", ressalta.

Saiba mais

ADAPTAÇÃO O direito de adaptação para o cinema de “Cadê Você Bernardette?” foi vendido para os produtores de "Jogos Vorazes" e "A Hora Mais Escura". A adaptação será feita pelos roteiristas de "500 Dias com Ela".

TEXTOS Maria contribuiu com roteiros para séries como "Elen", "Suddenly Susan" e "Barrados no Baile".


"O humor possui
uma natureza animal"

O enredo tem um tipo de humor baseado em observações sociais, criando piadas ao exagerar situações do cotidiano. Como trabalha o humor em sua literatura?
Eu não penso muito sobre humor. Para mim, humor possui uma natureza animal. Ou você é engraçado ou não é. Ou vê coisas como sendo essencialmente cômicas ou não. Em quase tudo que eu vejo encontro humor. Minha opinião sobre pessoas, eventos, política é essencialmente cômica. Então, quando começo a escrever, tento encontrar humor. Escrever livros demora anos. Meus personagens precisam manter meu interesse por todo esse tempo. A maneira segura de fazer isso é eles me fazerem rir. Assim que eu descubro algo que não tem senso de humor, seja um livro, filme ou série de TV, perco interesse em ler ou assistir.

A estrutura chama a atenção: boa parte do livro é feita através de textos de e-mails, cartas. Como chegou a esse arranjo?
O livro começou com a personagem Bernadette, que é um pouco autobiográfica. Como Bernadette, me mudei de Los Angeles para Seattle e tive dificuldades para me ajustar. Tinha sofrido um duro contratempo na minha carreira e, ao invés de seguir em frente, decidi nunca mais escrever, e culpei Seattle. Um dia percebi como minha atitude era conturbada e engraçada, e a personagem Bernadette nasceu. Comecei a escrever o livro em primeira pessoa. Mas depois de mais ou menos 20 páginas, a voz de Bernadette estava tão tóxica e cheia de pena de si mesma que eu não aguentava mais. E se eu não aguentava, certamente o leitor não suportaria. Então mudei para a terceira pessoa. Mas a narrativa ficou sem graça. Apenas quando tive a ideia de Bernadette tendo uma assistente virtual, na Internet, e eu escrevi seu primeiro e-mail, que a narrativa ganhou vida. Foi tão divertido que me ocorreu que talvez eu devesse escrever todo o livro através de cartas.

Seus dois livros são protagonizados por mulheres afetadas por eventos traumáticos. O que atrai ao escrever sobre a mulher contemporânea?
Eu sempre tento escrever sobre dores muito específicas que acontecem comigo. Eu preciso de algo para me manter interessada por três anos. Esses dois livros nasceram de minhas infelicidades pessoais. Eu acho que foi Samuel Beckett que disse: "Não há nada mais engraçado do que a infelicidade". Aí está uma pessoa que possui uma visão pessimista da vida, mas é essencialmente engraçado.


domingo, 11 de agosto de 2013

Espaço para diálogo

Hugo Viana

Entre o escritor e o leitor existe um profissional cuja atividade é pouco compreendida: o crítico literário. Autor e crítico compartilham o interesse por debater literatura, refletir sobre o mecanismo literário e o funcionamento do mercado editorial, e desse confronto intelectual surgem certas rusgas e concordâncias que historicamente ajudaram o amadurecimento literário. "O crítico é um leitor especializado do texto ficcional", opina Alan Flávio Viola, professor de literatura e crítica da UGB-VR, organizador do livro "Crítica Literária Contemporânea", que reúne textos de autores que pensam sobre o atual momento da análise literária. Para debater este assunto, pedi aos escritores Raimundo Carrero, Fernando Monteiro e Sidney Rocha que formulassem perguntas para que os críticos Thiago Corrêa, Cristiano Ramos e Cristhiano Aguiar respondessem - questões sobre métodos de análise e inquietações da atividade hoje em dia.

Raimundo Carrero – Em geral, o crítico não reflete o objeto em análise - o livro -, mas procura aplicar suas próprias teorias sobre literatura. Vale o que o crítico pensa e não o que o artista escreve? Não seria mais correto analisar as qualidades intrínsecas da obra?
Thiago Corrêa - Teoria é ferramenta, algumas se ajustam melhor à necessidade do texto analisado. Em geral, o que vale é o texto, o livro. A questão é que “as qualidades intrínsecas da obra” são passíveis de interpretação. E isso gera mal entendidos, um crítico não é o dono da obra, assim como a intenção do autor às vezes não se concretiza. O sentido de um texto muda com cada leitor, transforma-se com a época, condição social, formação cultural. Para evitar o relativismo, o crítico tem o compromisso de fundamentar sua opinião, exemplificar argumentos e apontar trechos que justifiquem sua análise. 

Raimundo Carrero - Na França, o grande crítico da época Saint-Bevue disse que Flaubert não sabia escrever. A história provou o contrário. E agora?
Thiago Corrêa - Sainte-Beuve foi um dos defensores de Flaubert na polêmica que envolveu “Madame Bovary” e, em termos negativos, questionou incoerências históricas em “Salammbô”. Equívocos não inviabilizam o exercício crítico, mas motivam o aperfeiçoamento. Sainte-Beuve estava ligado à tradição de crítica histórica, que buscava a interpretação da obra através da biografia do escritor. Essa tradição perdeu força com o surgimento de movimentos como a Nova Crítica e o Estruturalismo, que defendiam uma análise mais centrada no texto. Hoje os Estudos Culturais nos dizem para observar as mudanças históricas para não cair na presunção de achar que a nossa verdade é absoluta.

Fernando Monteiro - Quem, atualmente, leva em consideração - quero dizer, qual tipo de leitor - o que um crítico escreve sobre um livro?
Cristiano Ramos - Cabe pergunta prévia: quem leva literatura em consideração? Ao chegarmos à resposta, às pessoas que ainda mantêm hábito da leitura, perceberemos que todas têm opinião sobre a crítica - prova de que não a ignoram. Se concordam ou não, se aceitam os caminhos e juízos sugeridos, aí são outros quinhentos. Essa “imensa minoria” não tem só uma ou duas formas de pensar a crítica, creio que precisaríamos de longo ensaio para chegar a algumas formas de ler crítica hoje.

Fernando Monteiro - Inúmeros livros publicados hoje são absolutamente desimportantes. O público não se interessa em ser alertado sobre eles. Então, o que faz, nestes dias, um crítico?
Cristiano Ramos - A literatura perdeu sua centralidade em nossa cultura. É fato. Mas ser arte coadjuvante não significa dizer que é inexpressiva. Assim como no caso do escritor, cabe ao crítico parar de choramingar, buscar espaços (novos ou de resistência), refletir sobre as demandas dos leitores, aproximar-se do mundo ao redor dos livros. Como sempre acontece, não é a literatura ou o crítico que morre, mas sim aqueles que transformam suas lidas e crenças em velhas cabeças empalhadas e penduradas na parede.

Sidney Rocha - Se temos hoje uma literatura abaixo da média, do ponto de vista de estética e visibilidade, onde os nomes que se destacam talvez sejam ainda os do século 19 e 20, como anda a nossa crítica literária? É decadente, também?
Cristhiano Aguiar - Vejo de forma diferente este debate. Não concordo que nossa literatura contemporânea esteja decadente. Pelo contrário, creio que há bons poetas e prosadores escrevendo suas obras neste momento. Muitas vezes, a impressão de "decadência" surge pelo fato de que achamos que os clássicos já nasceram clássicos. Livros que estão no centro do nosso cânone foram aclamados quando lançados? Sim, mas isso não é verdade para todos. Além disso, mesmo ao serem aclamados, suas entradas na literatura brasileira não aconteceram sem polêmicas, debates, discordâncias. Um clássico chega até nós com camadas e camadas de mediações. Enquanto isso, a produção contemporânea está criando o seu próprio lugar. Assim, não me alinho com as teorias críticas que falam de uma impossibilidade da ficção ou da escrita literária no mundo contemporâneo.

A crítica não está decadente, embora eu veja com preocupação o fechamento recente de revistas de cultura e suplementos dedicados a livros. Apesar da grande imprensa cultural estar sacudida, a crítica continua a ser uma prática constante e instigante, seja ela feita por acadêmicos, ou por críticos de outras formações e que militam em diferentes suportes.

Sidney Rocha - Antes, a crítica era parceira em denunciar formas de poder que constroem cânones. Então, crítica, cânone e construções discursivas pareciam evoluir juntos. Como vê isso hoje? A crítica não está demasiadamente presa à autoridade do passado canônico? Você não acha urgente que a crítica busque uma forma de se legitimar historicamente, compreender seu objeto e justificar suas escolhas?
Cristhiano Aguiar - Discordo da hipótese de que a crítica era necessariamente um instrumento na denúncia da constituição de formas de poder. Na verdade, é possível trabalhar com a hipótese contrária, de que seu nascimento esteve estreitamente vinculado a uma nova constituição de poder, bem como à formação de todo um novo cânone. Um dos protomomentos da crítica literária está relacionado com as práticas da inquisição, por exemplo. Para justificar a inclusão ou exclusão de um livro em determinado sistema cultural e social, os inquisidores muitas vezes faziam autênticos pareceres de apreciação da obra, nos quais levantavam questões relacionadas a valores morais, estéticos e históricos. Seguindo o mesmo raciocínio, é interessante também lembrar que nos antigos salões de arte, a crítica desempenhou um papel de mediador do gosto burguês em ascensão. Quantas vezes não tivemos a figura do crítico "oficial", cujo papel principal consistia em ser uma espécie de "guardião" da Arte? Assim, um papel político conservador para a crítica esteve em sua origem desde o seu princípio.

Por outro lado, a outra face da moeda é verdadeira: a crítica pode e deve desempenhar um papel crítico, discutindo as relações entre arte, política e mercado. Isso é cada vez mais urgente e nunca devemos esquecer esse norte ao escrevermos sobre literatura.

Acho que a crítica que importa é aquela que coloca a si mesma sob o signo de uma implacável desconfiança. Não sei se é o caso de se legitimar o tempo inteiro, porque às vezes o gesto político pode estar na recusa a uma legitimação. Nesta recusa começaria o processo de questionamento dos cânones e dos mecanismos legitimadores, muitas vezes excludentes e cheios de preconceitos no tocante a questões estéticas, raciais, geopolíticas e de gênero. Mas talvez a pergunta queira apontar para outra faceta disto: a de que a crítica não pode perder de vista a sua função social, a generosidade de dialogar com diferentes públicos.


A crítica está demasiado preso à autoridade do passado? Depende. Creio que não é possível generalizar isto, porque, felizmente, há muitos diferentes críticos em atuação no Brasil e que possuem diferentes formações, campos de ação e interesses. Talvez fosse o caso, aqui, de discutir projetos críticos individuais.

MÉTODO - Para esta conversa, os escritores formularam perguntas sem saber quem iria responder. Os críticos replicaram sem conhecer a identidade do autor das questões. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Reflexões sobre o mal segundo Hannah Arendt

Hugo Viana


A biografia "Hannah Arendt", que estreia hoje no Cinema Rosa e Silva, é um filme que incorpora, como proposta de estilo, certos traços da personalidade da personagem biografada: certa frieza emocional e tendência a propor debates intelectuais sobre a condição humana. 

Hannah (1906-1975) é reconhecida por refletir sobre sistemas políticos e convenções sociais. A narrativa se concentra em um momento específico da vida de Arendt (interpretada pela atriz Barbara Sukowa): a escrita e a repercussão de um texto para a prestigiada publicação norte-americana The New Yorker sobre o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em 1961. 

Arendt foi até Israel acompanhar as sessões no tribunal e escreveu um polêmico ensaio (publicado no Brasil: "Eichmann em Jerusalém") em que reflete sobre a condição do mal, que em certas ocasiões não é exatamente um diabo evidente, mas um homem comum que pode ficar gripado ou errar. Não há qualquer contextualização prévia sobre Hannah; o filme não apresenta fatos sobre a infância ou o amadurecimento intelectual da filósofa alemã, apenas embates sobre política e história, além do envolvimento com o filósofo Heidegger, figura ambígua, professor e ao mesmo tempo possível amor. 

A direção é de Margarethe von Trotta, que já filmou traços da existência de outra personagem importante no movimento político, Rosa Luxemburgo, em 1986. Esses dois filmes parecem apontar o interesse da realizadora em refletir sobre a atual condição política e social da Alemanha através de observações sobre pensadores influentes. Nesses dois filmes, a vontade parece ser colocar os personagens e a história na frente de uma motivação estética - os personagens são maiores que o cinema. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Deslocamento emocional em geografia distante

Hugo Viana


A mitologia grega oferece possibilidades concretas de criação ainda hoje, especialmente pela capacidade de sugerir alegorias para personagens e enredos. O livro "Ithaca Road", do gaúcho Paulo Scott, narra a crise pessoal de Narelle, uma neozelandesa acossada por amores desajeitados e negócios de família que ocupam a beira de um precipício. "Narelle é uma Penélope cercadas de ulisses", sugere Paulo Scott. "Só que diferente da Penélope da mitologia, ela não esperará por ninguém - pelo contrário, irá atrás de um dos seus ulisses", ressalta o autor. 

O livro integra a série Amores Expressos, projeto da Companhia das Letras em que autores brasileiros foram enviados para diferentes capitais e, dessa experiência, deveriam produzir uma história de amor. Paulo viajou para Sydney, encontro que gerou um enredo que ao mesmo tempo em que apresenta o exotismo de uma visão estrangeira, a descrição de uma certa Austrália mítica, trata de temas essencialmente universais, amor, ganância, esperança e desespero. 

A história se concentra numa certa semana caótica da vida de Narelle; seu namorado, um austríaco chamado Jörg, a pediu em casamento, mas deixou a resposta suspensa, pois viajou para o Brasil em busca de uma reportagem investigativa que mexe no bolso de pessoas de poder; seu irmão, Bernard, está aparentemente prestes a decretar falência no bar que administra num bairro pop de Sydney, então chamou a irmã para gerenciar o local enquanto viaja em busca de financiamento. 

Narelle é vítima de psoríase, doença que deixa marcas na pele. Sua condição física parece alegoria para um conturbado estado emocional: o estresse acumulado a torna ainda mais frágil, com a epiderme coberta por inflamações. Num encontro fortuito, ela conhece Anna, mulher que também sofre com uma condição especial - conhecimento mútuo que parece salvar ambas do inferno da incompreensão. 

Aos poucos, numa prosa que parece crescer através de diálogos afiados e enredo cuja simplicidade sugere leituras sobre política de afetos, o autor revela desesperos contidos, emoções obstruídas por mecanismos de defesa nem sempre devidamente calibrados. Um romance em que o detalhe, a descrição minuciosa da cena, parece convocar o leitor a investigar o panorama geral de uma história de encenações. 

"Abordo pessoas 
em situações-limite"

Gostaria primeiro de saber sobre a série Amores Expressos. Do ponto de vista de criação, há algo diferente em escrever sob encomenda? 
Escrever sempre é difícil. Fiquei um tempo me trabalhando para esquecer que era uma encomenda, esquecer que havia expectativas concretas de quem apostou na possibilidade de eu contar uma boa história. De modo geral, essa é a mesma realidade entre editora e o escritor que recebe um adiantamento para escrever um livro. Pressão sempre há. No caso dos Amores Expressos, a única exigência relevante era a de que a história relacionasse a temática do amor, do envolvimento entre duas pessoas. Há muito espaço para criar.

Como foi o processo de escrita, as etapas de criação? 
Sobre o processo de criação, o que posso dizer é que é sempre caótico e varia de livro para livro. Cada história tem sua dinâmica para acontecer; tento não burocratizar ou disciplinar demais a tarefa. O Processo muda de um mês para outro, de uma semana para outra, porque eu mudo. Acho um tanto sem sentido expressar um modo milagroso, excepcional, mágico de fazer um livro acontecer. Como dedico quase todo meu tempo a escrever, sinto que já passei há algum tempo dessa necessidade de romantizar o processo criativo.

Assim como "Habitante Irreal", "Ithaca Road" trata da dificuldade de manter relações, encontros fortuitos, a condição política da existência. Diria que afetos e política são interesses de seu projeto literário?
É curioso. Dia desses alguém me escreveu dizendo que "Voláteis" (2005) era o mais político e visceral de todos os meus romances (estranho porque eu o considero o mais comportado) porque era um falso policial, um falso livro de vampiros e um falso livro de história de prisão, tudo ao mesmo tempo. A visão desse leitor até hoje não saiu da minha cabeça. Tentando ser objetivo, acho que abordo pessoas que estão em situações-limite e tentando escapar dessa condição desgraçada; sob essa perspectiva, posso garantir, continuo escrevendo sempre a mesma história.

Saiba mais

PROTAGONISTAS Todos os livros de Paulo Scott foram protagonizados por mulheres. Seu próximo romance, "O ano em que vivi só de literatura", em fase de escrita, é o primeiro que não será. 

ADAPTAÇÃO - Paulo Scott já teve um livro adaptado para o cinema: a seleta de contos "Ainda orangotangos". A obra foi ajustada pelo diretor Gustavo Spolidoro, em 2008. 

SÉRIE - O projeto Amores Expressos já rendeu obras de autores consagrados da literatura nacional: Joca Reiners Terron foi ao Egito e escreveu "Do fundo do poço se vê a Lua", Daniel Galera foi à Argentina e produziu "Cordilheira" e Chico Mattoso viajou para Cuba e criou "Nunca vai embora"

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A permanência de Graciliano Ramos

Hugo Viana


O escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) pertence a um grupo de autores que através da ficção, dos mecanismos da criação literária, parece perseguir um tipo de fidelidade crítica ao contexto histórico e político no qual trabalha. Na prosa de Graciliano, a literatura se torna um meio para comentar, ou afetar, o pensamento da época. "A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer", falou certa vez o autor, explicando sua percepção sobre arte. 

Graciliano investigou os efeitos psicológicos da crise social em homens comuns, pessoas tocadas pelo desespero por causa da fome, miséria ou ausência, se posicionando como uma espécie de intérprete de políticas sociais. Seus livros inspiraram o cinema brasileiro, gerando três filmes que permanecem na cinematografia nacional como obras essenciais: "Vidas Secas" (1963), "São Bernardo" (1972) e "Memórias do Cárcere" (1984). Os três foram reunidos num box, lançado pelo Instituto Moreira Salles (R$ 119). 

Trabalhos dirigidos por autores importantes - Leon Hirszman assinou "São Bernardo" e Nelson Pereira dos Santos filmou os outros dois. "Falar desta trinca de filmes é tocar no que há de melhor dentro do cinema brasileiro", opina Fernando Mendonça, crítico e pesquisador de cinema e literatura. "São obras que marcaram nosso audiovisual. Pensar na relação que conecta suas origens, os livros de Graciliano (também o que há de melhor em nossa literatura), ilumina um rico processo de interpretação das linguagens", ressalta. 

 "'Vidas Secas' é conhecido pela forma precisa como Nelson conseguiu traduzir cinematograficamente o texto, ou seja, a sua aridez, a linguagem crua e direta. Os diálogos são precisos e os ruídos e silêncios, junto com a fotografia contrastada, criam uma atmosfera idêntica à trama criada por Graciliano. O filme se adequa aos princípios estéticos que norteavam o Cinema Novo que prezava, em sua primeira fase, a mesma linguagem do neo-realismo italiano", opina Alexandre Figueirôa, pesquisador de cinema e professor da Unicap. 

"São Bernardo é uma obra que dialoga também com o Cinema Novo do qual Hirzsman era um dos integrantes", continua Alexandre. "Também é marcante a fidelidade ao texto, embora o cineasta tenha feito adequações de modo a potencializar o foco no narrador/protagonista e estabelecer uma relação das questões políticas com o que o Brasil vivia na época. 'Memórias do Cárcere' busca um diálogo mais próximo com o espectador dentro de uma narrativa mais convencional", arremata.

Nelson e Leon conseguiram um equilíbrio: ao mesmo tempo em que respeitam o texto original, mantendo o desenvolvimento dramático e o conteúdo político, fazem digressões pessoais. "Os três filmes são rigorosos, asfixiantes, exatamente como o texto inspirador; eles concentram o movimento cinemático em gestos mínimos, potencializam o tempo através da dilatação, do corte. É por este respeito à encenação que se tornam grandes", avalia Fernando. "Leon e Nelson renovaram a perspectiva da narrativa por não temerem na economia dos meios; seus cinemas extraem a grandiloquência das pequenas coisas, fazem o máximo a partir do ínfimo, talvez por isso tenham compreendido o intento de Graciliano: ser maior do que as circunstâncias", sugere. 

Filmes

"Vidas Secas" (1963)


Uma família caminha pelo Sertão em busca de sobrevivência. A certa altura, o filho pergunta à mãe o que é o inferno. A resposta parece chegar aos dois: o inferno está aqui, na condição de existir como bichos, sob o calor inclemente do sol, fugindo pelo deserto em busca de algo impossível de adquirir ao mesmo tempo em que é essencial: alimento, afeto. 

"São Bernardo" (1972)

Paulo é um bruto existencial, um homem desfavorecido economicamente que se torna dono de terras e pessoas. Mesmo adquirindo o que sua família prescindiu não consegue enxergar a felicidade. Destaque para Madalena, personagem feminina de excepcional profundidade, e para a música de Caetano, um lamento lúgubre que antecipa o futuro dos personagens. 

"Memórias do Cárcere" (1984)

O filme parece refletir sobre o significado da cadeia. Não apenas a prisão real, a crise em um ambiente carcerário, mas também o encarceramento forçado de ideias, e como essas algemas representam uma sociedade incapaz de avançar politicamente. Nelson admitiu que pretendia mostrar "o cárcere como uma metáfora da sociedade brasileira". 

Depoimentos

"Nenhum outro de nossos romancistas possui tão grande senso de valores dramáticos, nem penetração psicológica tão admirável. 'Vidas Secas' é um livro rico em imagens. Fundamental numa adaptação é definir quem conta a história. Isso determina a posição da câmera. Acho que 'Vidas Secas' é o único livro de Graciliano contado na terceira pessoa. O narrador, portanto, passa a ser a câmera"


Nelson Pereira dos Santos, 1963


"Por que Graciliano? Ah!, porque a literatura do Graciliano é uma coisa extraordinária! Ele escreve com precisão, consequência, capacidade de síntese, complexidade. Um escritor admirável. Eu não quis fazer qualquer tipo de invenção em uma obra literária que admiro. Fiz com que meu trabalho fosse o de um cantor que interpreta a música de outro compositor com admiração e respeito"

Leon Hirszman, 1983

Saiba mais

DATA
Ano passado foi celebrado 120 anos de nascimento de Graciliano. Desde então, editoras vêm publicando novas edições de clássicos do autor. Ramos foi ainda homenageado na Flip deste ano. 


TEXTOS Os filmes vêm com pequenos livros que reúnem análises críticas sobre as obras e depoimentos dos atores e diretores envolvidos nos projetos. 

POLÊMICA Num dos textos, Nelson lembra que, quando "Vidas Secas" foi exibido em Cannes, a presidente da Associação Internacional de Proteção de Animais ficou indignada com a cena em que Baleia, a cadela da família, é assassinada. Os produtores do filme, então, organizaram a vinda de Baleia, que estava viva, para o festival francês. Mesmo assim, a mulher disse que se tratava de outro vira-lata, pois, segundo ela, todos eram iguais. 

ADAPTAÇÃO Nelson também pretendia filmar "São Bernardo". O diretor escreveu para Graciliano, propondo uma mudança no fim. O escritor negou, explicando que a ideia de Nelson iria se afastar do conceito do livro. 

MÚSICA Graciliano não gostava de música no cinema. Em "Vidas Secas", o som é composto por ruídos. Pensando nisso, Caetano Veloso, que fez a melodia de "São Bernardo", usou apenas modulações de voz, sem palavras. 

Relação intensa entre 
cinema e literatura

O lançamento desses três filmes baseados em livros que habitavam o imaginário literário de várias gerações, lembra um debate antigo: a disputa entre cinema e literatura, duas artes que embora tenham bases diferentes - a imagem e a palavra -, compartilham a mesma essência dramática. 


Na história do cinema brasileiro é possível encontrar casos de adaptações com sucesso de crítica e público. "Além dos nomes já discutidos (Nelson e Hirszman, que adaptaram outros livros), Joaquim Pedro de Andrade me parece completar certo alicerce de nossa 'filmografia literária nacional'. Cabe destacar que atualmente vemos realizadores sendo influenciados por livros e realizando filmes de qualidade, como Luiz Fernando Carvalho, que dirigiu 'Lavoura Arcaica'", ressalta Fernando Mendonça.

Avaliar uma adaptação implica em observar não apenas fidelidade ao texto, mas entender a maneira como gestos ou acontecimentos são transformados em imagens. "Antes de pensarmos um filme como uma adaptação literária, por mais que ele seja inspirado em livros, precisamos compreender que ele é fruto de um novo processo de criação, um produto original", diz Fernando. "A 'boa adaptação', ao invés de se preocupar unicamente com a fidelidade, é identificada pela liberdade de recriar através do movimento de imagem e som uma nova impressão do mundo", sugere. 

"Cinema e literatura são expressões independentes, mas o cinema deve muito à literatura desde os seus primórdios", avalia Alexandre Figueirôa. "Da mesma forma que alguns signos do texto literários são impossíveis de serem traduzidos em som e imagem, o cinema também tem recursos narrativos que são exclusivamente seus. Acho que qualquer adaptação deve ser considerada uma obra distinta", ressalta o acadêmico.

Nesse sentido, a distinção entre as diferentes artes parece implicar em barrar a aproximação natural de duas formas de expressão. "No diálogo entre o cinema e a literatura, não devemos pensar a partir de confrontos ou concorrências (se o filme é melhor ou pior do que o livro), mas sim recebermos as obras como em uma aliança", destaca Fernando.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Uma nova voz literária

Hugo Viana

A publicação do primeiro livro envolve certa mistura de sentimentos; desde a ansiedade por revelar uma voz pessoal, que ainda procura encontrar seu estilo particular, até receios concretos: editar e lançar um livro, encontrar meios para divulgar o trabalho sem a ajuda de grandes editoras ou agentes literários - ferramentas necessárias para chegar a um público maior. Fernando de Mendonça, paulista que desde 2002 mora em Pernambuco, doutor em literatura pela UFPE, começou a divulgação de seu primeiro romance, "Um detalhe em H" (Editora Paés). O livro será lançado oficialmente no dia 1º de agosto de Livraria Cultura do Shopping RioMar, às 19h30, com debate com o autor e críticos; enquanto isso, o próprio autor articula vendas de exemplares em perfil criado no Facebook, em que incentiva diálogo com leitores - empenho cada vez mais comum em obras de perfil independente. 

Para Fernando, o maior problema para jovens autores que não possuem o amparo de uma editora reconhecida é o mercado. "A lógica do mercado me parece bastante assustadora, para não dizer violenta", diz o escritor. "Divulgar e distribuir continua sendo o maior obstáculo para autores novos, que hoje contam com várias opções acessíveis de publicação. Desde que eu decidi não escrever somente para as minhas gavetas, tornei-me consciente de que o formato livro não garantiria a ultrapassagem de um espaço fechado. A escrita não termina com o ponto final, com a impressão no papel. Vejo meu livro publicado e fico feliz em saber que ele 'nasceu'. Agora o desafio é fazê-lo sobreviver", comenta. 

No enredo, Fernando conta a história de Hugo, personagem-narrador que busca na memória detalhes que o ajudem a compreender o ritmo de transformação e a intensidade dos sentimentos. Hugo revisa o cotidiano, seus atos, em especial a relação com o pai e a vizinha, Helena. "Como leitor de Flaubert, não tenho como negar que há muito de mim em Hugo. Acredito que uma das camadas da literatura é servir de espelho, para o autor ou leitor. Meu narrador, apesar de não ser a minha voz, carrega minhas inquietações, meus problemas", explica. 

A narração de Hugo, criança que perdeu a mãe, explora um progressivo conflito interior, um fluxo de consciência que revela sentimentos contraditórios em relação ao pai e à existência. "Toda a estrutura do livro partiu desta voz em primeira pessoa, encontrada numa espécie de conto que escrevi há muito tempo e se tornou o prólogo da versão final. Desde o início não senti outra opção adequada para desenvolver, pela linguagem, as crises do meu narrador. Foi muito importante enxergar todas as situações narradas pelo ponto de vista dele, nos diferentes momentos de vida que cobrem os capítulos; isto me permitiu trabalhar a instabilidade do personagem com alguma estabilidade", diz o autor. 

Neste primeiro livro (Fernando escreveu a obra de ensaios "A Modernidade em Diálogo: o fluir das artes em Água Viva"), a impressão é a de um autor que busca impregnar o detalhe com o potencial da sugestão, a capacidade de insinuar sem no entanto explicar através da linguagem direta. "O grande mérito da escritura de Fernando é o decoro, essa capacidade rara em nossos dias, de potenciar a narração pela sugestão", opina o escritor Lourival Holanda, na introdução. "Acredito que toda narração parte de um detalhe. Não é possível narrar sem pormenorizar um acontecimento. Para mim é fundamental encontrar na arte esta transformação do olhar; sair de um livro lido com a percepção mais aguçada para o que há de singular no cotidiano. Creio que é das maiores coisas em uma boa leitura: atentar para o que há de menor e mais secreto na vida", avalia Fernando. 

"Um detalhe em H", de Fernando de Mendonça
Editora Paés, 122 páginas, R$ 30