segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Memória da literatura pernambucana

Hugo Viana


Tarcisio Pereira tem uma relação profunda com a literatura pernambucana: fundou, em 1970, a Livro 7, livraria que, até 1998, ofereceu publicações raras, e abriu espaço para lançamentos de escritores do Estado. Tarcisio é um dos homenageados da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que termina hoje. "É muito gratificante ver o trabalho reconhecido", diz livreiro. "Em janeiro, completo 50 anos de trabalho com literatura. Então é muito bom ser lembrado numa Bienal como a nossa, a terceira maior do Brasil", ressalta. 

Durante a Bienal, Tarcisio divulga um projeto que destaca a relevância da história literária de Pernambuco e a importância da memória cultural: a coleção Geração 65, composta por escritores que frequentavam a Livro 7. "Nossa proposta é chegar a 15 volumes", avisa Pereira, que lançou as duas primeiras edições na quinta-feira - obras de Ângelo Monteiro e José Mário Rodrigues - e apresenta três obras hoje: "Haikais", de Joca de Oliveira, "Frutas de arribação", de Wilson Vieira, e "O corpo em composição", de J.C. Marinho, às 16h. 

"Quero fazer uma antologia de cada membro da Geração 65, que foi importantíssima na poesia", diz Tarcisio. "Vejo isso como uma obrigação minha. Essa é a minha geração, esses poetas viviam dentro da Livro 7, então sei naturalmente o conteúdo da poesia de cada um. Sei que são poetas que em qualquer circunstância representarão bem a poesia pernambucana. Até dezembro, pretendo lançar obras de Almir Castro Barros, Gladstone Vieira Belo, Marcus Accioly, Jaci Bezerra, Alberto da Cunha Melo, Severino Silveira, entre outros", adianta Tarcisio. 

A história da Livro 7 está intrinsecamente conectada com a produção e fruição literária em Pernambuco - tanto na maneira como apresentou obras importantes sobre filosofia e política durante a Ditadura, período em que debater esses temas era um risco, quanto na forma como apresentou escritores pernambucanos. "Fui aluno de Jacob Berenstein, fundador da Livraria Imperatriz. Ele era um dos melhores livreiros do Brasil. Depois de trabalhar sete anos com ele, abri minha livraria, em 1970, vendendo livros de arte, literatura e ciências humanas", lembra Tarcisio. 

"Naquela época havia muita repressão. Os livreiros tinham receio em trazer obras de filosofia, política. Mas eu sabia da necessidade do mercado, da procura dos leitores. No Brasil não se publicava quase nada de política. Comecei a importar de Portugal, França, Espanha, Argentina. Obras de interesse para estudiosos, políticos, leitores. Com o crescimento, em 1972 duplicamos o tamanho, para 50m². Em 74, nos alojamos em um casarão no Centro. Nesse espaço, além de livraria, tínhamos loja de discos, artesanato, galeria de arte, um pequeno teatro e uma cervejaria", detalha. 

A Livro 7 encerrou as atividades em 1998, resultado de uma mistura de razões. "O fim foi muito difícil. Tinha me espalhado pelo Nordeste, abrindo lojas em Fortaleza, Campina Grande, João Pessoa e Maceió. Além da matriz tinha filiais em Boa Viagem e Cidade Universitária. Não existe um fato que possa dizer que definiu o fim, não tem um motivo. Mas uma das coisas que mais afetaram foi que, naquela época, aconteceu um achatamento muito grande do salário dos professores, e a Livro 7 vivia, em geral, da vida acadêmica", explica.

Atualmente Tarcisio trabalha com livros, mas numa posição diferente: como editor, tentando lançar novos nomes e escritores consagrados no mercado. "Sempre dei muito valor à cultura local. Sempre procurei estimular e descobrir novos autores. O ápice da minha luta em divulgar a cultura nordestina foi a participação, em 1991, da Feira de Frankfurt. A comissão organizadora queria levar autores do Sul e Sudeste, então fiz uma proposta para levar também autores do Nordeste. Mandei um projeto, eles apoiaram, o governo alemão bancou a passagem e a hospedagem. Levei 150 livros, vendi o copyrights de alguns, deixei nas universidades, no Centro de Literatura Luso Brasileira. Plantei sementes da nossa literatura na Alemanha", destaca o livreiro. 

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