sábado, 24 de dezembro de 2011

4. As companhias de Joca Terron

Hugo Viana



Alguns autores escrevem sobre a própria literatura, publicações que remetem à história das palavras e também, como consequência natural, em grande escala, à formação pessoal enquanto leitor. É o caso de Joca Reiners Terron em "Não Há Nada Lá" (Companhia das Letras, 160 páginas, R$ 24), livro lançado originalmente em 2000, mas publicado novamente neste ano pelo selo Má Companhia. Terron escreve uma espécie de quebra-cabeças literário, montando um panorama sem regras em que grandes artistas ou personalidades excêntricas como William Burroughs, Jimi Hendrix e Aleister Crowley habitam tempos diferentes. Essas referências sem ligação aparente são definidas pelo critério exclusivo de Terron, que parece escrever sobre heróis e vilões de sua formação, as vidas imaginárias de pessoas que influenciaram sua prosa. É um pequeno livro ambicioso que transgride sem qualquer exagero certas convenções da literatura, invertendo a ordem narrativa ou tornando as palavras turvas, impossíveis de ler, um tipo severo de intervenção no texto. Sobre o livro, o escritor Enrique Vila-Matas comentou: "Este livro pertence à mais exigente das minhas bibliotecas e é adequado para se viajar às províncias nas quais se admite o passaporte shandy. Nesses lugares, chegar com 'Não Há Nada Lá' só traz vantagens, permite bons alojamentos e as melhores companhias sempre que saibamos a contrassenha: 'O importante não é saber, e sim ter o telefone daquele que sabe'".

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