quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

6. Em busca de João

Hugo Viana



Um dos aspectos misteriosos e mais interessantes envolvendo a obra de arte é o efeito que ela causa no espectador, algo que não pode ser realmente medido ou antecipado. A história em torno do livro "Ho-ba-la-lá" (Companhia das Letras, 184 páginas, R$ 34), de Marc Fischer, é um pouco sobre a obsessão que a arte pode causar. Fischer é um jornalista alemão e há 15 anos, quando estava no Japão, "na tentativa de esquecer alguém", um colega japonês colocou no toca discos o vinil "Chega de Saudade" (1959), de João Gilberto, especificamente a música "Ho-ba-la-lá". É um dos belos momentos do livro quando Fischer se lembra da primeira vez em que ouviu a música e dois minutos e 17 segundos depois percebeu como a canção "seguia preenchendo o espaço", "se juntado aos objetos, ao ar, a nós". O livro é sobre sua procura por João Gilberto; Fischer vai até o Rio de Janeiro buscando algo que lhe parece essencial, ajudado por Rachel ("O cão rastreador mais rápido do mundo e a intérprete mais habilitada do Rio de Janeiro, uma judia líbano-brasileira com um diabo tatuado na panturrilha, que pesa duas vezes mais do que eu e prefere mulheres a homens"). O livro documenta a procura de Fischer, mais ou menos como um diário pessoal. Ele entrevista pessoas próximas ao cantor, um dos criadores da Bossa Nova. Uma nota triste é o que o autor morreu em abril de 2011, pouco antes do lançamento na Alemanha.

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