terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ficção científica em refilmagem pouco inspirada


Hugo Viana


No cinema contemporâneo a palavra "remake" (refilmagem) sugere debates sobre a originalidade como critério único de avaliação, a memória ou permanência do cinema do passado. Entra hoje em cartaz mais um filme para essa lista: "O Vingador do Futuro" (EUA, 2012), com o mesmo nome do original, de 1990, dirigido por Paul Verhoeven e protagonizado por Arnold Schwarzenegger, baseado em texto de Philip K. Dick. 

No enredo, Douglas Quaid (Colin Farrell) é um operário cansado da rotina, com sonhos recorrentes sobre fuga e conforto. Na geografia do filme existem duas regiões habitáveis: a Federação e a Colônia, um visualmente inspirado universo apocalíptico. O que separa as duas é um simbólico elevador que funciona como meio de transporte, chamado "A Queda", e estabelece de forma concreta a hierarquia social. Um grupo de resistentes compromete essa estrutura com ataques terroristas contra a Federação, e a guerra parece iminente. 

É nesse contexto que Douglas conhece uma empresa, chamada Recall, que tem como objetivo inserir boas memórias na mente das pessoas, proporcionando a oportunidade de criar ilusões e implantar, por exemplo, a lembrança falsa de sucesso nos esportes ou fama cinematográfica. Douglas curiosamente escolhe ser um agente terrorista, um espião que irá derrubar o governo da Federação, mas quando começa o tratamento a sala é invadida por policiais e surge a dúvida: o que vemos é real ou é efeito da Recall?

A história então passa a falar sobre o choque entre realidade e imaginação, cotidiano e sonho, colocando em dúvida a real natureza dos acontecimentos. Essa primeira meia hora parece o melhor momento do filme, sugerindo um clima vago de suspeita, com personagens que insinuam culpa através de um olhar desconfiado ou movimentos discretamente ambíguos. São detalhes que parecem acentuar a impressão de há algo estranho acontecendo (as referências passam necessariamente por filmes como "Matrix", "Minority Report" e "Blade Runner"). 

Colin Farrell se encaixa bem nesse tipo mediano de filme, numa espécie de interpretação que é mais física do que propriamente dramática, embora quando algum drama seja necessário o ator falhe sob qualquer ponto de vista. Embaixo de chuva sem camisa, correndo de carros voadores ou explodindo um pelotão de robôs, Farrell tem a pouca versatilidade emocional que consagrou Schwarzenegger no papel original, embora naquela ocasião existisse uma espécie de comédia rudimentar, ausente neste lançamento. 

Depois de boas sequências iniciais, tudo parece perder interesse e a grande motivação é a vingança, o conflito armado, a encenação de tiros e explosões. O aspecto político do enredo é apressadamente (e ingenuamente) resolvido, e o que se torna principal no enredo é um drama paralelo sobre o passado amoroso de Douglas, cenas dispensáveis de dramaturgia frágil.

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