sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Todos odeiam o atacante


Hugo Viana


Ano passado foi lançado o livro de contos "Geração subzero", organizado pelo professor e escritor Felipe Pena, que tinha como proposta publicar, num único volume, autores que eram, ao mesmo tempo, mal tratados pela crítica literária e sucesso de público. Escritores como André Vianco ou Thalita Rebouças, que produzem para estantes específicas, enredos de gêneros definidos, como suspense, fantasia ou romances adolescentes. 

Embora tenha problemas literários graves (que variam entre enredos mal construídos, clichês narrativos e simplesmente textos ruins), parece importante pensar "Geração Sub Zero" não apenas como um livro de contos, mas também como uma publicação que fala em voz alta sobre o mercado editorial, revelando aspectos nem sempre observados com atenção, como a distinção entre literatura "intelectual" e outra "comercial", livros elogiados mas com tiragem pequena (geralmente 5 mil) e outros que, mesmo sendo best sellers, não possuem apoio da crítica literária. 

Um exemplo dessa literatura "comercial" é "Nove contra o 9", escrito por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, escritores, jornalistas e roteiristas. É um livro que parece mostrar, através de humor sexual e dos bastidores do futebol, o que constitui uma literatura voltada ao grande público, interessada em fácil identificação popular. 

Os protagonistas do livro são Zé Cabala, um vidente alto e magro, de turbante na cabeça, que trabalha adivinhando resultados de jogos, benzendo atletas e recebendo espíritos de craques do passado, e Gulliver, o narrador da história, uma mistura entre Sancho Pança e Watson, um escudeiro em versão reduzida, um deficiente vertical acostumado a trocadilhos de baixo nível. 

Enquanto fogem de torcedores irados que os contrataram para que o time não caísse para a segunda divisão ("não caiu, despencou", explica Gulliver), essa dupla pouco habilitada a atividades que exijam esforço intelectual chega a Banânia, cidade tão pequena que "não tem semáforo". Eles escutam pelo rádio a final do campeonato local e ouvem quando Beleza, o maior atacante da história do Banânia Esporte Clube, morre em campo, logo depois de fazer o milésimo gol. 

O livro faz ironia constante ao gênero policial, lembra Ed Mort, paródia torpe de detetives norte-americanos, personagem criado por Luís Fernando Veríssimo em 1979. Em cada sequência de investigação de Zé e Gulliver os autores citam grandes detetives do cinema ou da literatura do passado, tentativa de sugerir conhecimento de causa, embora sem qualquer motivo. Os personagens são esboços exagerados do universo esportivo, como o zagueiro grande e forte que na verdade é gay, o eterno reserva, o cartola ladrão, o torcedor fanático. Nenhum deles vai além do que o rótulo sugere, limitados por um sentido imaturo de humor. 

"Nove contra o 9" parece ser um exemplo da "geração subzero": um livro sem maiores pretensões autorais, uma história rápida (e um tanto descartável) baseada em regras claras para prender a atenção, envolvendo mistério, humor, sugestão de sexo e comentários sobre os bastidores do futebol. Parece existir um cuidado maior com a palavra, com o ritmo da frase, aspectos essenciais pouco vistos no livro organizado por Felipe Pena, mas a sensação geral é de um quadro estendido de Zorra Total ou Casseta e Planeta. 

"Nove contra o 9"
Alfaguara, 120 páginas, R$ 29,90

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