sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Monstros invadem praia de Santos!


Hugo Viana

foto: Josi Vicentin 

Gustavo Duarte, 35 anos, tem um gosto peculiar pelo gênero "filme de monstro", e foi essa preferência por lagartos gigantes destruindo cidades que inspirou o cartunista a criar "Monstros!" (Companhia das Letras, 88 páginas, R$ 34,50), HQ de charme nostálgico, que narra de maneira discreta e um tanto cômica uma história sobre criaturas gigantes que invadem a cidade de Santos, em São Paulo. 

"Gosto muito de histórias de monstros, então queria fazer uma homenagem aos monstros japoneses, gigantes e bizarros, que povoaram minha infância", diz o autor. "Eu assistia a esses seriados, via as séries 'Ultraman', 'Godzlia' e 'Spectreman', além dos clássicos de terror da Universal. São programas que eu cresci gostando e admiro até hoje. Mas talvez a maior influência seja 'Indiana Jones', a sensação de aventura misturada ao horror japonês", comenta Gustavo. 

Esse interesse gerou uma obra curiosa, uma história de pouco mais de 80 páginas que apesar de ter origem na cultura japonesa e norte-americana parece especialmente interessante por introduzir tradições e humor brasileiro ao enredo. Há no trabalho de Gustavo a tentativa de transformar a paisagem normalmente vista nesse tipo épico de história, inserindo características da cultura popular nacional e o "jeitinho" brasileiro. 

"Apesar de ser uma coisa 'japonesa', são histórias que influenciaram várias pessoas e passaram a ser mundiais", diz o autor. "Quando escrevi queria que fosse a mais familiar possível, e para mim 'familiar' é Santos. Se morasse no Recife, talvez ambientasse aí, talvez fizesse com que os monstros fossem para Olinda. Mas tenho ligação afetiva com Santos", explica o cartunista, que tirou fotos da cidade como inspiração. 

A HQ reúne imagens que sugerem uma espécie de arqueologia do gênero "monstros", trabalhando com imagens reconhecíveis de filmes novos ou antigos. "Referências não são voluntárias", diz Gustavo. "Acho excelente 'Cloverfield' (2008), um filme moderno de monstro. Pode ser que algumas cenas do filme tenham servido de inspiração. Tem outras imagens icônicas, como a de um monstro saindo da água. Isso não é intencional. A gente é o que consome", comenta.

Não há diálogos em "Monstros!", a história é narrada apenas através de imagens, dando continuidade ao estilo de Gustavo, que em trabalhos anteriores - "Birds", "Taxi" e "Có" - também não usou palavras. "Quando sentei para criar pensei em como contaria a história, se teria um narrador ou diálogos. Resolvi desenhar sem nada, sem nenhum texto, como os cartuns que mais tinha gostado de fazer. Quando conversei com meu editor ele me perguntou se eu conseguiria. Você acaba ficando preocupado em segurar o leitor numa narrativa sem texto. Mas estou achando minha linguagem, meu caminho, e aprendendo com isso", diz.

O trabalho com histórias em quadrinhos ainda é visto com algum preconceito, como se fosse um meio de expressão menor no meio artístico. Ao mesmo tempo, dentro dos gêneros, Gustavo trabalha no terreno de "histórias de monstros", forma narrativa vista como prazer gorduroso e pouco reflexivo. "Preconceito na minha vida nunca funcionou direito", diz o autor. "Eu acho que o quadrinho bem feito é equivalente a um ótimo livro bem feito. Sou cartunista há 15 anos, ilustrei textos de pessoas que acho que escrevem mal ao mesmo tempo em que trabalhei com desenhistas que considero geniais. Não é questão de que um seja melhor do que o outro, tem coisas boas e ruins de cada lado. Fazer bem feito é difícil, qualquer que seja o gênero", opina o autor. 

SERVIÇO
"Monstros!", de Gustavo Duarte
Quadrinhos na Cia
Preço médio: R$ 34,50

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