quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Top 10 2012

Hugo Viana

Fim do ano chegando e mais uma mania: listas. Hoje escrevo sobre dez livros particularmente bons de 2012, mas é importante ressaltar que estas são opiniões pessoais e abertas para debates sobre livros que eu li, parcela bastante pequena em relação ao grande volume de lançamentos do ano. 

10. Cães heróis

Os livros do mexicano Mario Bellatin envolvem uma estranha mistura entre religião, sexo e fé - espécie de grito a favor dos excluídos. Em "Cães heróis", o autor fala sobre um "homem imóvel" que mora com a mãe e a irmã, que passam horas catalogando sacolas vazias (?). Esse é o mote para uma misteriosa (e fascinante) história de sugestão política e indefinição moral do atual estado da América Latina. 

9. Céu dos suicidas

O livro surgiu depois de um processo de luto de Ricardo Lísias. Um amigo do autor tirou a própria vida, e Ricardo lidou com a morte através da literatura, escrevendo sobre perder alguém querido, o desejo de descanso para aqueles movidos pela ternura mas que encontram tragicamente o fim. O protagonista se chama Ricardo Lísias, escolha que reforça uma jornada biográfica sobre fé, culpa e amor. 

8. Bonsai

História de amor jovem, do tipo garoto conhece garota e se apaixona como nunca antes. Já na primeira página o autor avisa que ela morreu e ele terminou triste e sozinho. O nome "bonsai" parece sugerir a pretensão do chileno Alejandro Zambra: um romance pequeno, idealmente cortado, como se as páginas fossem todas escuras e o trabalho do escritor fosse na verdade apagar em busca de um enredo. 

7. Barba ensopada de sangue

Assim como em livros anteriores, Daniel Galera escreve sobre personagens nos limites da crise, uma espécie de antologia de um mal estar contemporâneo influenciado pela cultura pop. No enredo, o protagonista procura notícias sobre a misteriosa morte do avô, décadas antes, ao mesmo tempo em que lida com o suicídio do pai. Aos poucos o livro se transforma numa espécie existencial de romance policial. 

6. patrimônio

Em novembro Philip Roth anunciou que não irá escrever mais livros. Roth se aposentou depois de mais de 30 romances, mantendo uma unidade de estilo. Nos últimos anos sua literatura parecia procurar flagrar o tempo, entender a memória, as mudanças físicas e emocionais. Um pouco disso tudo está em "Patrimônio", dura história real em que Roth acompanha os últimos dias de seu pai. Difícil ler sem gerar muitas lágrimas. 


5. Antiquários

"Antiquários" é um livro de vampiros que em momento algum traz a palavra "vampiro". O autor argentino Pablo de Santis usa a condição do vampirismo, a necessidade de sangue para manter a consciência, como uma espécie de alegoria para pessoas que se apegam ao tempo, à memória do passado e passam anos juntando peças para formar coleções que apenas ressaltam a ausência de algo essencial. Contagiante exemplar do gênero fantástico. 

4. Crônica de um vendedor de sangue

O chinês Yu Hua escreveu a história da família Xu, alguns altos e em geral muitos baixos, pequenas situações que sugerem a dificuldade de permanecer unido quando as decepções se acumulam. Hua tem bom humor, faz observações singelas sobre o comportamento humano, relata o desastre como um tipo delicado de comédia da vida privada, e ainda revisa aspectos da história de trabalhadores da China, que décadas atrás vendiam sangue para pagar contas. 

3. Nihonjin

Imigrantes japoneses chegam ao Brasil guiados pelo desejo de juntar dinheiro para voltar ao Japão e abrir negócios próprios, mas aqui conseguem apenas o suficiente para sobreviver. O livro transcende questões panfletárias: é um testemunho sensível sobre choque cultural, manter tradições e criar raízes. O livro de Oscar Nakasato ganhou o prêmio Jabuti de melhor romance cercado por polêmicas, mas é uma das grandes novidades no mercado nacional. 

2. País sem chapéu

Na verdade "País sem chapéu" foi lançado em 2011 e está incluído nesta lista por capricho. Dany Laferrière, 59 anos, é haitiano, mas na década de 1970 foi para o Canadá, fugindo da ditadura de Duvalier. Este livro narra o regresso do autor ao Haiti, 20 anos depois, um incrível relato quase biográfico sobre tradição, herança cultural, retorno, família e política, usando a morte como sintoma ao mesmo tempo fantástico e real de um país em crise. 

1. O filho de mil homens

Valter Hugo Mãe é um escritor humanista; em seus livros existe um tipo sincero de ternura mesmo quando trata de sentimentos sombrios. Nesta obra, o autor narra a história de pessoas que formam laços que embora não sejam oficiais parecem tão sagrados quanto os que ligam uma família tradicional. Ao mesmo tempo em que procuram conforto esses personagens são enxotados a cada página por uma turba que sente raiva por eles exercerem de forma inofensiva exatamente aquilo que os torna humanos. São colocados à margem pelos vizinhos por serem homens maricas ou mulheres enjeitadas, mas convocados por Valter Hugo com um tipo raro de delicadeza. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário