sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Reflexões sobre o mal segundo Hannah Arendt

Hugo Viana


A biografia "Hannah Arendt", que estreia hoje no Cinema Rosa e Silva, é um filme que incorpora, como proposta de estilo, certos traços da personalidade da personagem biografada: certa frieza emocional e tendência a propor debates intelectuais sobre a condição humana. 

Hannah (1906-1975) é reconhecida por refletir sobre sistemas políticos e convenções sociais. A narrativa se concentra em um momento específico da vida de Arendt (interpretada pela atriz Barbara Sukowa): a escrita e a repercussão de um texto para a prestigiada publicação norte-americana The New Yorker sobre o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em 1961. 

Arendt foi até Israel acompanhar as sessões no tribunal e escreveu um polêmico ensaio (publicado no Brasil: "Eichmann em Jerusalém") em que reflete sobre a condição do mal, que em certas ocasiões não é exatamente um diabo evidente, mas um homem comum que pode ficar gripado ou errar. Não há qualquer contextualização prévia sobre Hannah; o filme não apresenta fatos sobre a infância ou o amadurecimento intelectual da filósofa alemã, apenas embates sobre política e história, além do envolvimento com o filósofo Heidegger, figura ambígua, professor e ao mesmo tempo possível amor. 

A direção é de Margarethe von Trotta, que já filmou traços da existência de outra personagem importante no movimento político, Rosa Luxemburgo, em 1986. Esses dois filmes parecem apontar o interesse da realizadora em refletir sobre a atual condição política e social da Alemanha através de observações sobre pensadores influentes. Nesses dois filmes, a vontade parece ser colocar os personagens e a história na frente de uma motivação estética - os personagens são maiores que o cinema. 

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