segunda-feira, 9 de julho de 2012

A erudição humilde de Ian McEwan

Hugo Viana*



PARATY (RJ) - Quando Ian McEwan conversou com a imprensa no sábado, durante a Flip, a impressão era de erudito e ao mesmo tempo humilde professor. Aos 64 anos, o escritor inglês falou sobre o ofício do escritor e processos de escrita.

“Antes de ser escritor eu era um leitor apaixonado”, disse McEwan. “Acho que todos os escritores precisam estar cientes das tradições literárias de seus idiomas. Escritores modernos não inventaram os romances. Não podemos ignorar os gênios que enriqueceream nossa língua. Devemos agradecer aos que nos precederam e seguir adiante”, comentou, ressaltando a importância da memória na literatura.

O autor fez o lançamento mundial na Flip de seu novo livro, “Serena” (Companhia das Letras, 384 páginas, R$ 39), em que mistura espionagem, romance e os efeitos da ficção no mundo real.

A personagem principal é novamente uma mulher construída com rigorosa profundidade psicológica. “Eu conheci algumas mulheres. Posso dizer que elas também são humanas e nós homens dividimos muito com elas. Não concordo com a demarcação na literatura, velho, novo, gênero, nações. Li recentemente um livro narrado pelo cachorro de Marilyn Monroe, e niguém sabe como um cão pensa. Para fazer isso é preciso ser romancista”, comentou.

“Quando você se sintoniza com seu personagem deixa de ser um esforço constante. É preciso habitar os personagens, ajustar sua mente para um certo sinal, e então as percepções seguem”, comentou, sobre Briony, personagem de “Reparação”.

“Para ler um livro é preciso paciência, talvez oito ou 36 horas de atenção contínua”, disse. “Aposto que não estou só, mas nem sempre termino os livros que começo. Muitas vezes paro nas 10 ou 12 páginas iniciais”, falou, lembrando a importância de convidar o leitor para a leitura.

“Existe uma técnica para pegar trutas no rio. É preciso habilidade. Você coloca a mão embaixo da água e gentilmente faz cócegas em suas guelras, então ela fica completamente adormecida e você pode retirá-la facilmente. É um pouco a relação que tenho com o leitor”, refletiu.

*Viagem a convite do Itaú Cultural

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