sexta-feira, 5 de abril de 2013

Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose


Hugo Viana


Se uma pesquisa rastreasse a influência do medo no cinema - os diretores que transformaram o cotidiano em imagens aterradoras, os filmes que demonstraram prazer autêntico em gerar sustos -, o realizador britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) e suas obras certamente seriam, considerando a vasta história do cinema, as respostas mais populares. 

Hitchcock é tão associado a seu gênero preferido que recebeu a alcunha de Mestre do Suspense, além de seu nome ter se tornado uma espécie base de comparação e adjetivo para catalogar novos filmes ou diretores do gênero. Um dos trabalhos responsáveis por esses notáveis feitos artísticos é "Psicose" (1961), que teve seu imprevisível assassinato no chuveiro e trilha sonora que remete ao movimento rápido e sugestivo de uma faca adaptados tantas vezes e de maneiras tão diferentes em outros filmes, programas de TV ou toques de celular. 

No livro "Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose", o jornalista e escritor norte-americano Stephen Rebello narra a história que envolveu a produção desse filme. Rebello entrevistou a figurinista, os diretores de arte, o autor do livro que inspirou o filme, roteiristas, protagonistas e atores coadjuvantes, explicando como cada um percebia as excentricidades do cineasta britânico, compondo dessa forma um interessante panorama com contradições e peculiaridades de Hitchcock. 

O autor explica na introdução como desde criança era fã dos filmes de Hitchcock, ressaltando como esse interesse acabou direcionando sua carreira para o jornalismo e o cinema. "Ainda menino, com a tolerância de meus pais amorosos e incríveis, eu ligava para o escritório do diretor na Universal, depois da escola", diz Rebello. Depois, em janeiro de 1980, o autor conseguiu uma entrevista, a última conversa de Hitch com a Imprensa. "Consegui após uma série de acontecimentos improváveis e milagrosos. Sentei-me em eu escritório na Universal como um jornalista novato e desconhecido", comenta. 

É um livro que ocupa uma estante popular nas livrarias dos Estados Unidos, mas ainda pouco usual no Brasil: obras que são, ao mesmo tempo, reportagens extensas, que relatam, através de técnicas jornalísticas (apuração, entrevistas, descrição de fatos), histórias de bastidores, e também uma espécie de análise cultural, falando sobre o contexto social e refletindo como as forças políticas e culturais desse período influíam no pensamento cinematográfico da época (um exemplo é Peter Biskind, que teve traduzido no Brasil o ótimo "Como a geração sexo, drogas e rock'n'roll salvou Hollywood"). 

Na publicação, Rebello ressalta como Hitchcock, que na época era também produtor de um popular programa de TV e hábil manipulador da curiosidade da Imprensa, usou poucos recursos, trabalhou mais rápido do que o normal, burlou rigorosas regras para o roteiro ser aprovado e filmou a famosa cena do chuveiro pensando exatamente em provocar um tipo de revolução no mercado, pela sugestão de violência e sexo e uso criativo de montagem e enquadramentos. É uma obra que através de curiosidades instigantes apresenta uma nova perspectiva sobre um dos grandes filmes da história do cinema. 

CINEMA

O livro foi transformado em filme (estreou no Brasil em fevereiro, mas infelizmente permanece inédito no circuito exibidor do Recife), e, na introdução, Rebello descreve a leitura do roteiro, a emoção ao estar próximo de estrelas como Anthony Hopkins (que interpretou Hitchcock), Helen Mirren (Alma, a mulher do diretor) e Scarlett Johansson (Janet Leigh, a protagonista de "Psicose"). 

SERVIÇO
"Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose"
Intrínseca, 256 páginas, R$ 29,90

Nenhum comentário:

Postar um comentário