quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os monstros de J.J. Abrams e Spielberg

Hugo Viana



Talvez nenhuma cinematografia realmente se compare com a norte-americana na capacidade de criar fantasias ou explosões de maquinário pesado. Hollywood estabeleceu desde o começo de sua história a tradição de cinema espetáculo, e certamente "Super 8" mantém meio intacto esse prestígio.

O filme é dirigido por J.J. Abrams e produzido por Steven Spielberg, dois homens adultos acima dos 40 anos que em filmes anteriores já demonstraram interesse autêntico pela cultura jovem nerd e por coisas que fazem CABUM!, cinema emocional de puro entretenimento.

"Super 8" se passa em 1979 e conta a história de um grupo de garotos que, enquanto gravam uma cena para um filme B amador sobre zumbis, durante um ato de transgressão, numa filmagem à meia-noite, numa ferrovia, um trem se choca incrivelmente contra uma picape, numa sequência de explosão que aparentemente apenas o cinema americano de indústria é capaz de filmar tão bem. A câmera dos garotos cai no chão com o impacto e filma algo fora do comum, e descobrir aos poucos essa parte da trama no cinema parece um dos grandes momentos do filme.

Algo que surpreende em "Super 8" é a habilidade para criar atmosferas, diferenças de tons e estados. As primeiras cenas remetem imediatamente a algo de cultura pop jovem, alguns pequenos dramas colegiais e refúgios sentimentais de nerds, talvez lembranças de Abrams, que cresceu durante os anos 1970.

A partir do acidente tudo se torna um pouco mais curioso e o filme cresce, passa a representar um gênero não muito respeitado pelo cinema contemporâneo, o filme de monstro. É ainda um retrato de época, com os efeitos sociais da guerra fria, a sensação de apocalipse pós anos 1950, o temor sobre a Área 51 e a investigação militar sobre possível vida alienígena. Tudo isso no mesmo filme, e parece funcionar muito bem, mantendo um espírito anos 1970 bem-humorado, sendo como homenagem informal ao cinema do início da carreira de Spielberg.

Este é o terceiro longa-metragem dirigido por J.J. Abrams, mais conhecido como produtor de obras baseadas na publicidade do mistério, como o seriado "Lost" e o filme "Cloverfield" (2008). Abrams consegue atrair a atenção das pessoas para seus projetos criando um tipo fascinante de suspense em torno dos enredos, liberando nos momentos certos (no caso de "Super 8", durante a edição deste ano de Cannes) algumas poucas informações, dados que quando vistos no cinema costumam ser maiores do que o esperado, um pouco como prazeres gordurosos de bom cinema.

Abrams parece ser a evolução um pouco mais artística e criativa da versão bastante caricatural do produtor carrancudo, profissional que supostamente tem cifrões ao invés de olhos e cheira a enxofre. Sua curta filmografia é exemplo perfeito de um tipo de cinema comercial habilidoso enquanto filme de gênero e orgulho cinéfilo, algo bastante agradável de ver e difícil de encontrar no mercado.

"Super 8" parece um tipo de cinema feito por adultos com dinheiro e meios tecnológicos adequados para produzir em alta qualidade as ideias graciosamente ingênuas que eles tinham na infância, aos oito ou nove anos, numa garagem, com cartolina, tesoura, cola, papelão e uma câmera super 8. É um filme de personalidade e sentimentos jovens, feito em homenagem aos garotos que usam óculos de armação grande, algo desajeitados, que sonham com mulheres bonitas e são fascinados por monstros.

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