quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A volta do (mesmo) "Rei Leão"

Hugo Viana



Talvez tão interessante quanto descobrir filmes inéditos no cinema seja a oportunidade de ver novamente obras do passado, revisar sensações e lembranças que certos trabalhos causaram anos atrás. "Rei Leão" (The Lion King), lançado originalmente há 17 anos, em 1994, volta amanhã aos cinemas do Recife, motivado aparentemente apenas pelo avanço tecnológico do sistema de projeção, sendo exibido exatamente o mesmo filme, mas agora em 3D.

A animação narra a história de um jovem leão, Simba, filho do rei, Mufasa, e seu amadurecimento até chegar ao trono durante a vida adulta. Scar, irmão do rei, leão capeta e fisicamente débil, levemente entediado com a rotina de um reinado pacífico que não o inclui como membro decisivo, não compartilha a bondade nem tampouco a exuberância física de Mufasa, e então planeja roubar o lugar majestoso do irmão, algo de tragédia shakespeariana nesta família rixosa.

A história se desenvolve como uma jornada de Simba para assumir sua identidade real, aceitar seu papel de herói em tempos de guerra e liderar seu povo de volta à paz. No meio do caminho tudo fica um pouco mais difícil, e Simba precisa de ajuda, socorro que vem de onde menos se espera, algo que reforça a importância dos amigos nem sempre perfeitos, mensagem que de alguma forma repercute os anos 1990 e as novas gerações de adolescentes.

Depois de tantos anos o debate em torno de "Rei Leão" parece ser sobre sua permanência, essa capacidade incrível de continuar ativo na memória. Algo que pode ser verificado não apenas pela trilha sonora, adaptada para outros filmes e programas de TV ("Hakuna Matata"), e pelos personagens coadjuvantes, especialmente Timão e Pumba, agradavelmente divertidos, mas essencialmente pela marcação cultural de uma época, se mantendo como um filme que relaciona problemas humanos numa história algo tradicional de aventura.

O filme repassa mensagens sobre a transição entre infância e vida adulta, usando a trajetória de Simba como comentário geral sobre pessoas, e com isso despertando um interesse talvez universal de comunhão de valores.

Dois momentos parecem resumir bem esse espírito. No começo do filme, Simba enfrenta três hienas, e ele tenta afirmar sua majestade a partir do rugido, mas o pequeno miado que ele é capaz de fazer na infância ainda não assusta ninguém. Depois dessa pequena humilhação, cuja proporção parece naturalmente aumentada pela ingenuidade infantil, ele é salvo por seu pai, leão virtuoso e apto a resolver problemas agressivamente. Simba acompanha os passos do pai, vendo as marcas da pata dele no chão, e em seguida compara essas pegadas com sua própria pata, bastante menor, percebendo mais claramente sua pequenez.

O filme sobrevive desses pequenos instantes de elevada taxa emocional, momentos que retratam as desilusões daqueles que são jovens demais para assumir seus sonhos enormes, algo que se torna concreto com o decorrer do filme.

"Rei Leão" sugere ainda uma certa maneira turista de representar a África, de qualquer forma catálogo de imagens que pertence a outra identidade cultural, pouco filmada ou vista no cinema comercial. Curiosamente "Rei Leão" volta a entrar no circuito num período em que as animações passam aos poucos a explorar novas geografias e personagens de outras etnias, como uma princesa negra (em "A Princesa e o Sapo") e um garoto asiático como personagem central na trama (em "Up"), o que torna interessante descobrir sua recepção para outra geração de crianças.

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