sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Crime e castigo na Suécia

Hugo Viana



É comum a indústria do cinema americano adaptar histórias bem sucedidas criadas em outros países e transformar partes do enredo, apagando curiosidades culturais ou excesso de violência como forma de facilitar a venda no mercado mundial. Vem da Suécia o material original do lançamento "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (EUA, 2012). O enredo é baseado no primeiro livro de uma série de três, escritos por Stieg Larsson. Foi adaptado para o cinema em 2009 na Suécia, e devido ao potencial foi comprado por Hollywood.

Na história, Mikael (Daniel Craig), um jornalista que tentou derrubar um empresário poderoso, mas perdeu no tribunal por falta de provas, é contratado por um homem rico para descobrir o que aconteceu há 40 anos, quando sua sobrinha Harriet desapareceu. Durante a investigação Mikael é ajudado por Lisbeth (Rooney Mara), agente especial eficiente, garota hacker meio gótica que passou a adolescência sob tutela do estado, diagnosticada com fobia social, raivosa e pronta para atacar. Todos são suecos e por algum motivo falam inglês com sotaque.

A escolha do diretor parece a opção natural, David Fincher, autor de "Seven" (1995) e "Zodíaco" (2007), duas formas diferentes de narrar uma história de crimes pavorosos e perseguição policial. Neste novo trabalho Fincher está mais próximo de "Zodíaco", uma forma realista e menos exuberante de contar uma história sobre crueldades e acessos de violência.

Ao contrário do que se poderia imaginar, Fincher não adaptou para o bom gosto os detalhes violentos da história original. A certa altura um homem é cruelmente punido por estuprar uma menina, e nesse instante a plateia cruza as pernas e faz careta. Perto do fim o assassino leva um golpe no rosto com um cano de ferro, e enquanto tenta fugir sua cara está sangrando deformada, o tipo de detalhe geralmente ignorado em filmes que mantêm classificação etária abaixo dos 18 anos.

O filme funciona mais ou menos bem como thriller de suspense, o típico enredo que estende o mistério da identidade do assassino. O problema parece ser o ritmo; quando a parte criminal da trama - que parece ser a principal -, é encerrada, depois de o clímax explodir, o filme sofridamente continua por mais 30 minutos, dedicando-se a um ponto menor da trama, de certa forma se arrasando a um final bem menos impactante.

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