sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O lado sangrento de uma fábula


Hugo Viana


Alguns filmes tentam ser criativos modificando histórias clássicas, transformando aspectos de um enredo previamente conhecido em opções ousadas. "João e Maria: caçadores de bruxas" parece nascer de uma curiosidade: observar como seria a vida adulta das crianças atacadas por uma bruxa. 

O filme começa com uma cena clássica; João e Maria estão perdidos na floresta, foram abandonados por seus pais, e meio por acaso chegam a uma casa feita de chocolate. Ao entrar encontram uma bruxa velha de cabelos brancos despenteados que a idade não trouxe serenidade, pois a única coisa que ela faz durante dois minutos é gritar. Os garotos a matam com facadas e a tostam em fogo alto, e então começa a jornada de carnificina. 

Enquanto os créditos iniciais aparecem, acompanhamos, através de manchetes de algum jornal sensacionalista da Idade Média, a trajetória dos irmãos até se tornarem conhecidos exterminadores de bruxas. Quinze anos depois, João tem diabete e Maria tem mau humor; eles são contratados por um prefeito de uma vila para encontrar 11 crianças desaparecidas e eliminar bruxas especialistas em artes marciais, e a impressão é que os irmãos vieram diretamente de um mundo moderno, importando falas, roupas e armas do futuro. 

A caçada corre bem até aparecer uma Grande Bruxa (Famke Janssen), uma entidade que tem poderes especiais além da força física. Ela tem um plano complexo e sem muito sentido, que envolve recolher o sangue de 12 crianças durante um eclipse lunar para obter imunidade ao fogo. Mais ou menos nesse ponto o roteiro acelera (o filme dura 1h20), apressando resoluções, revelando segredos e sugerindo a possibilidade de uma sequência através de coadjuvantes curiosos. 

O filme é fraco sob muitos aspectos, lembra um esboço inicial de projeto para a TV que provavelmente seria cancelado na segunda temporada. Os irmãos protagonistas parecem os principais motivos para isso; Jeremy Renner (o arqueiro de "Os vingadores"), que aos 42 anos interpreta um jovem  de 27, e Gemma Arterton, uma tentativa de mulher durona, mas com zero carisma. 

Assim como a nova versão de Branca de Neve, recentemente lançada nos cinemas, esse "João e Maria" parece demonstrar o interesse da indústria norte-americana de recriar fábulas infantis com uma atmosfera sombria (algo estabelecido nas animações da Disney, já que o texto original, escrito pelos irmãos Grimm - Jacob e Wilhelm -, tinha certa complexidade moral e sugestão de violência). 

De fato surpreende a quantidade de sangue, esquartejamento ou esmagamento facial, o interesse por buscar inovação através do contato com o gênero horror (o filme estreia também em projeção 3D, com efeitos que parecem potencializar a carga de violência), mas nada disso parece salvar o fiasco de uma história mal contada com personagens pouco simpáticos. 

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