sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Filme celebra amor ao cinema


Hugo Viana

Alguns filmes mostram interesse particular pelo próprio cinema, criando enredos que destacam amor aos bastidores do processo cinematográfico. Entra em cartaz, no Cinema da Fundação, o uruguaio "A Vida Útil", de Federico Veiroj, que ao mesmo tempo em que desenvolve uma história de amor, narrando o percurso de um homem tímido até adquirir autonomia sobre suas escolhas, sugere uma reflexão sobre o estado do cinema atualmente, em especial dos locais de exibição.

O longa dura pouco mais de uma hora e pode ser dividido em duas partes. A primeira é fraca, lembra, na hipótese mais otimista, um filme institucional sobre a cinemateca, um documento que registra com rigor de observador partidário os problemas técnicos e o gradativo afastamento do público. Veiroj não desenvolve personagens ou história, parece exclusivamente interessado em reforçar que a cinemateca é um espaço importante por exibir "filmes bons"; é como um ensaio documental sem o efeito catalisador e fascinante do cinema.

A segunda parte se afasta dessa vontade quase obsessiva de reforçar a necessidade social da cinemateca e confronta a permanência do cinema na vida cotidiana de forma criativa e singela. Um dos programadores do cinema, Jorge, 45 anos, recebe a informação fechamento da cinemateca com um tipo discreto de rebeldia; projeta uma investida romântica, corta o cabelo, exerce o direito de encontrar encanto em coisas pequenas. Numa das cenas mais curiosas, finge ser professor de direito e narra com eloquência um texto escrito por Mark Twain sobre a necessidade da mentira.

Dessa forma, o tema cinema continua presente como argumento, mas de maneira sutil; o filme investiga a possibilidade de emular na rotina a carga emocional gerada pela relação entre imagem e som. "A Vida Útil" é uma homenagem ao cinema do passado, observando com melancolia monótona o mercado contemporâneo.

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