sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Exemplar bruto de cinema de gênero


Hugo Viana*


BELO HORIZONTE (MG) - William Friedkin, 77 anos, é geralmente lembrado por dois grandes filmes, "Operação França" (1971) e “O Exorcista” (1973). Depois desses sucessos no início da carreira, a trajetória de Friedkin foi relativamente incerta, alternando bons projetos e peças desastrosas de cinema. Seu trabalho mais recente é "Matador de Alguel", exibido no encerramento da 6ª edição da Mostra Cine BH.

O filme é autêntico exemplar do cinema B, um produto nostálgico de um gênero popular especialmente nos anos 1970, quando Friedkin estava no topo. É um filme sujo, grosseiro e turrão, sangrento e bruto, uma atmosfera facilmente reconhecível de cinema de gênero, especialidade do diretor.

A história é comicamente ordinária; um rapaz novo se meteu com gente errada, deve dinheiro a um mafioso local, e para pagar U$ 6 mil inventa um plano que é claramente equivocado. Por motivos que não podem ser explicados pela lógica, ele convence outras pessoas a entrar na jogada, seu pai, sua irmã e um matador de aluguel (Matthew McConaughey, em atuação excelente).

Revelar mais pode estragar um enredo que prende justamente como um tipo de prazer gorduroso de cinema. A história pertence ao subgênero pulp, lembra romances baratos vendidos na banca de revista por menos de R$ 10, produtos que antes não eram tratados como arte, até Tarantino confundir os limites do bom gosto com os ótimos "Cães de Aluguel" (1992) e "Pulp Fiction" (1994).

Não é preciso esperar muito de sentido ou coerência do roteiro; a história parece existir pelo desejo de brutalidade, por um sentido de encenar coisas que chocam ou geram curiosidade, um bem feito e algo sensacionalista show de horrores. É provável que depois ver o filme ninguém coma uma coxa de galinha da mesma maneira.  

Ao mesmo tempo em que depois de um soco na cara vai jorrar muito sangue, prazeres do cinema de gênero, existe humanidade nos personagens, especialmente no matador de McConaughey, excêntrico responsável por manter o espectador preso ao filme.

*Viagem a convite do Cine BH

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