sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Épico nacional cai nos clichês do melodrama



É curioso notar como a história do Brasil, a formação da identidade cultural nacional, geralmente aparece no cinema em sua forma precária e pitoresca, através de um conjunto exótico de etnias - portugueses, bandeirantes, índios - exercendo costumes clichês atribuídos a eles, sem no entanto demonstrar qualquer característica que sugira a ambiguidade moral relativa a processos históricos forjados em suor e sangue. 

Estreia hoje "O tempo e o vento", versão da Globo Filmes para o século 19, período em que o Rio Grande do Sul passava por conflitos entre índios, espanhóis e famílias gaúchas, que lutavam para decidir o futuro político e geográfico da região. O filme é uma espécie de épico e começa com Bibiana (Fernanda Montenegro) no leito de uma mansão, enquanto sua família está em guerra. Ela então vê o fantasma do Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda), seu grande amor da juventude, que surge para conversar sobre o passado. 

Esse argumento ruim é pior ainda em cena. O filme é um longo e doloroso flashback de duas horas sobre o surgimento da família protagonista. Há uma narração que insiste em inserir abusos dramáticos, frases de efeito, descrever com muitas palavras a qualidade indecifrável que no cinema poderia ser repassado através de imagens e sons. 

Todos os atores parecem exagerar de diferentes maneiras; Thiago Lacerda é uma espécie de boêmio bandoleiro, excessivamente canastrão, indeciso entre herói e vilão, acentuado nos dois extremos. Cléo Pires é Ana Terra, avó da protagonista, interpretando emoções com os olhos, esbugalhando ou apertando, dependendo da situação; Marjorie Estiano é Bibiana jovem, parece atuar pintando as unhas, uma mocinha cujo conflito - amar um homem capaz de atrocidades - é ignorado em seu potencial dramático. 

"O tempo e o vento" prova que nem todas as experiências na vida são positivas, um filme que parece condensar todas as características negativas atribuídas ao gênero melodrama. A obra é baseada no livro "O Continente", trilogia escrita por Érico Veríssimo, composta ainda por "O Retrato" e "O Arquipélago". 


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