sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Melodrama e política em "Tabu"

Hugo Viana


Alguns filmes contemporâneos parecem procurar no passado, nos vestígios arqueológicos dos primeiros anos do cinema, a essência das imagens, o aspecto imponderável que constitui a arte cinematográfica. O filme português "Tabu" (2012), de Miguel Gomes, vencedor do Festival de Berlim, explora o gênero melodrama de coração doloroso, usando de maneira original ferramentas do cinema contemporâneo e descobertas de grandes diretores do passado.

A história é dividida em duas partes: "Paraíso Perdido" e "Paraíso". No começo há três personagens: a senhora Pilar, sua vizinha, Aurora, e a empregada desta última, Santa (as três igualmente ótimas). O segundo trecho narra a juventude de Aurora, na África, em preto e branco e sem som, apenas a narração de um dos personagens; um passado romântico e político, tratando de amores impossíveis e, de maneira indireta, da dominação colonial. Além disso, há uma abertura que, com rara beleza, apresenta o sentimento geral da história, com humor e grande coração.

É um filme que sugere nostalgia ao modelo de cinema praticado nos anos 1920, mas ao mesmo tempo consciente de métodos contemporâneos de captação e reconstrução de imagens. Gomes faz homenagem ao diretor alemão F.W. Murnau - o título é o mesmo de um longa de Murnau de 1931, além de a personagem principal ter o mesmo nome de outro filme do diretor alemão (1927), também uma sofrida história de amor.

O filme tem um humor sutil, uma espécie de comédia sobre relações humanas. Há ainda uma dimensão política curiosa: comenta discretamente a crise atual de Portugal ao mesmo tempo em que observa o passado colonialista, a dominação sobre países africanos e os modos de permanência de um sistema baseado na hierarquia da cor e no dinheiro.


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