sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Reflexão sobre a natureza da ambição

Hugo Viana


Existe algo nos esportes que não pode ser explicado através de palavras ou a partir da razão; o sentimento de por um breve momento presenciar acontecimentos fora de série, feitos por homens e mulheres de carne e osso, corpos que superam limites. "Rush: No Limite da Emoção", de Ron Howard, parece interessado justamente nesse desafio existencial, em reproduzir o sentimento de heroísmo e fragilidade que há em grandes feitos esportivos.

O enredo é sobre a temporada de 1976 da Fórmula 1, transformando a rivalidade histórica do piloto austríaco Niki Lauda (Daniel Brühl), que disputava o bi-campeonato, e o britânico James Hunt (Chris Hemsworth), em uma reflexão sobre a natureza da ambição e da inveja. Desde a Fórmula 3, liga inferior, os dois eram rivais; na Fórmula 1, espaço nobre do automobilismo, com os carros mais rápidos do mundo, as disputas se tornaram mais intensas.

James é alto, forte, loiro dos olhos azuis, pacote completo de exageros, arrogante, irônico, habilidoso e imprevisível no volante. Acredita que sexo é o café da manhã dos campeões. Niki é mal-humorado, grosso, incapaz de fazer amizades, tem dentes pontudos, parece um rato. Comprou com alguns milhões de dólares um lugar na Fórmula 1 e se manteve ativo na Ferrari por ser extremamente genial.

O filme sugere a sensação de risco de vida através do som, o volume exagerado dos motores, e imagens, com movimentos rápidos de câmera e montagem que privilegia ações (dos pilotos) e reações (da torcida). Ao mesmo tempo, a câmera abelhuda de Ron Howard registra sequências absolutamente desnecessárias, como o funcionamento interno dos carros, com enquadramentos que tentam a criatividade ao desafiar a gravidade, colocando estilo e uma marca autoral renitente acima do enredo.

Há um excesso de frases de para-choque, clichês absolutos da cartilha de vencedores, bobagens como "quanto mais perto da morte, mais vivo nos sentimos", "mais forte do que o medo da morte é a vontade de vencer", "para ser um campeão você precisa realmente acreditar". Um filme sobre homens brutos, que sentem muito mais do que falam, mas que recorre a um tipo óbvio de sentimentalismo.

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