sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Retrato de uma realidade aumentada sobre o amor

Hugo Viana



O cinema independente norte-americano parece historicamente interessado em avaliar as contradições sociais do país. Temas considerados ariscos para o "grande público", como aborto, incesto e preconceitos em geral são transformados em enredos de qualidade variada no circuito alternativo dos Estados Unidos. O novo exemplo desse gênero é "A Filha do Meu Melhor Amigo" (The oranges), tipo de tradução baseado em reducionismo equivocado, em cartaz na Sessão de Arte. 

O enredo narra o rompimento de um casal maduro, David (Hugh Laurie) e Paige (Catherine Keener), consequência da armadilha da rotina e da incapacidade mútua para demonstrar afeto. A filha do casal amigo vizinho, Nina (Leighton Meester), volta de uma longa viagem "para se conhecer" e, aos poucos, mais ou menos como em "Manhattan" (1979), de Woody Allen, acontece a magia da sedução; a formação de um par romântico inesperado e socialmente julgado como inadequado, o homem grisalho e a mulher com a metade de sua idade. 

O elenco conta com atores experientes como Hugh Laurie, Allison Janney, Oliver Platt e Catherine Keener. Eles tentam interpretar com algum grau de sutileza e sofisticação, procurando demonstrar sentimentos na medida de homens e mulheres adultos calejados, mas o roteiro de Ian Helfer e Jay Reiss parece insistir em aumentar o volume das reações, injetando histeria em situações em que o silêncio poderia indicar uma maior robustez dramática. 

O filme foi lançado nos Estados Unidos em 2011 e estreou no Brasil em setembro. O atraso de dois anos parece indicar certo desprezo das distribuidoras nacionais, ou talvez dúvidas sobre como comercializar um filme que não se enquadra diretamente no cinema alternativo, pela teor mais ou menos conservador, nem tampouco no cinema comercial, pela forma como fala sobre tabus da cultura ocidental.

Cotação: regular

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