sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

#4 Only god forgives (2013)


O material de publicidade (trailer, cartaz) parece sugerir que Ryan Gosling é o protagonista, mas o roteiro se esforça em sabotar a presença do ator em cena, criando exatamente 17 falas para seu personagem em 1h30 de filme, e uma única variação de expressão em seu rosto, a ausência de sentimento, a cara de paisagem. Nicolas Winding Refn parece mais interessado em sua pesquisa de estilo, na confirmação histriônica de uma suposta autoria visual, trabalhando os movimentos de câmera, a luz e o departamento de arte ao ponto em que não há naturalidade, apenas planejamento. É a partir da técnica que o diretor tenta desenvolver os personagens. Há um policial que parece ser o real foco de interesse, Chang, homem pequeno que corta braços num tipo de julgamento olho-por-olho, além de talento promissor no karaokê. A possibilidade de filme sensorial, ou de filme de atmosfera, que abdica a narrativa clássica para exercer uma encenação a partir de certo lirismo, parece uma necessidade progressivamente opressora e incômoda. É difícil imaginar uma resposta emocional se o filme não parece interessado em oferecer envolvimento dramático. O protagonista silencioso de "Drive", um herói cujo sentimento estava evidente em suas ações, torna-se uma espécie frágil de homem sem rumo, guiado por uma noção estranha de dever familiar. Sua mãe adorável, Kristin Scott Thomas, chama a namorada do filho de "depósito de porra" num jantar, vilã cujo exagero parece dar fôlego ao enredo. No geral a impressão é que as emoções são fabricadas pela técnica, parecem se esconder em um passado profundo não concretizado na imagem. É preciso paciência e boa vontade, talvez em excesso, para procurar o que torna essa história especial.

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