Em seus momentos discretos de comédia, pequenos comentários de humor
social bem colocados no meio de uma ficção científica, o filme de Michael
Crichton revela o protótipo do jeca contemporâneo; a pessoa rica que,
precisando fugir da realidade burocrática, paga muito dinheiro para
experimentar caprichos de algum período histórico reconhecível pelo que há de
mais evidente (Roma, Europa Medieval, Velho Oeste), vivendo o aspecto pitoresco
de um passado vagamente familiar. Gastam uma fortuna para se parecer com
nativos, usando roupas de guerreiros, caubóis ou princesas, sem se interessar
necessariamente pela cultura daquele período, apenas por uma ideia exótica de
fantasia étnica - "ser" um xerife, um cavaleiro, para preencher a volúpia do desejo. A história é sobre um parque de diversões
povoado por robôs que agradam hóspedes, máquinas submissas controladas para
suportar desejos reprimidos (assassinato, sexo). Crichton trata seus
personagens como idiotas, uma curiosa ausência de protagonista bravo. Há cenas
que sugerem a iminência de um mal estar; algo acaba dando bastante errado, os
cientistas não conseguem mais controlar as máquinas, que se rebelam de forma
bruta contra os hóspedes. A violência é filmada em câmera lenta, ressaltando a
impressão de espetáculo terrível, deixando um gosto amargo de vazio.
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