sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

#9 Secret life of Walter Mitty (2013)


A vida secreta de Walter Mitty ocorre durante lapsos, instantes em que o personagem de Ben Stiller, também diretor, foge da realidade e se imagina uma espécie de grande homem - herói, valente, eloquente. São momentos em que o filme se transforma em curta-metragem de gênero, sequências de um ou dois minutos que passam a sensação de comédia, aventura, ação; percursos excêntricos que revelam as necessidades emocionais do personagem. A vida real de Walter Mitty é reclusa, trabalha no setor de revelação de negativos da revista Life, passa o dia em um espaço escuro tratando imagens cheias de energia e vida. A estrutura do filme, baseada em opostos evidentes, não parece uma falsa profundidade dramática; apresentando a vida do protagonista através de dois extremos há uma espécie de afirmação realista sobre o vazio que preenche a região intermediária, cuja natureza é gradualmente sugerida em cenas familiares. A Life está prestes a migrar do impresso para o digital, cortes brutos serão feitos na equipe. Walter não parece ter muito a oferecer, a não ser a imagem "número 25" de um rolo enviado pelo principal colaborador da Life como sugestão para a capa da última publicação. Segundo o fotógrafo, essa imagem é a "quintessência" da vida (ou da Life revista, jogo de palavra). Naturalmente a imagem 25 não está entre as recebidas pelo departamento de Mitty, sugerindo que a vida é a busca, o percurso. Ele decide, então, procurar o fotógrafo, na Groelândia. É nesse instante em que o filme, a própria realidade de Walter, se transforma nos delírios iniciais; enfrenta um tubarão, se joga de um helicóptero para um barco, foge de um vulcão em erupção. Essas cenas são como uma realidade afetiva, o que parece tornar o filme, mesmo com alguns excessos dramáticos, um exemplo interessante de trajetória de um personagem em busca de controle de sua própria existência.

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