segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

#5 Point blank (1967)


Não apenas o estilo de um diretor interfere na evolução de um gênero, mas também a própria construção cultural de uma época, as perspectivas sociais, políticas e econômicas de um determinado período. A estética policial, que nos anos 1940 esteve atrelada a detetives que ignoravam limites éticos para derrotar chefes do crime, a mulheres cínicas claramente mais espertas do que os homens, passou por modificações que parecem revelar informações de cada período. Em 1967 John Boorman filmou um thriller policial que hoje parece sugerir, tanto na forma quanto no conteúdo, pensamentos da década. O novo vilão não é um homem que domou bandidos à força e espalhou medo nas ruas, mas a "corporação", a "organização", uma instituição sem nome que parece dominar economicamente a sociedade, um organismo vivo cujo topo pode ser modificado, mas a essência permanece entranhada numa noção implacável de poder. Lee Marvin é traído por seu parceiro de crime, sua mulher o abandona pelo canalha, ele é deixado à beira da morte; um homem destruído emocionalmente. Sua motivação é recuperar a quantia exata que foi roubada, U$ 93 mil, matando criminosos no processo. O filme tem a identidade dos anos 1960 em sua construção técnica, sendo fortemente influenciado pelas renovações estilísticas promovidas por diretores da Nouvelle Vague. A montagem se torna acelerada de acordo com o ritmo do enredo, tempos diferentes se misturam, fatos essenciais são sugeridos através da sucessão de imagens rápidas e posicionamento de câmera que foge ao rigor tradicional da gênese do noir, nos anos 1940 - sintomas que colocam o filme como exemplar de sua época ao mesmo tempo em que identifica sua relevância para a história do cinema.

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